COLEÇÃO PETER MEEKER – OBRAS DE 1988 A 2024

24 de Maio 2025 a 6 de Outubro 2025

Esta exposição apresenta uma seleção de obras da Coleção Peter Meeker, uma importante colecção privada de arte contemporânea sediada no Porto. A sua relevância manifesta-se em três dimensões distintas: em primeiro lugar, trata-se de uma verdadeira colecção, e não de uma mera acumulação. Muitas pessoas podem ter o privilégio de coleccionar arte, mas poucas possuem uma colecção que ultrapasse o estatuto de acumulação valiosa. Entre essas poucas, são ainda mais raras as que construíram algo com real significado. É esse o caso aqui. Este coleccionador — Peter Meeker é o pseudónimo de Pedro Álvares Ribeiro — coleciona em profundidade: possui múltiplas obras de alguns artistas cuidadosamente seleccionados, permitindo assim acompanhar de forma minuciosa os percursos, linguagens e visões de cada um. Isto exige visão, persistência (ou obsessão) e os meios financeiros adequados. Assim, uma coleção privada é sempre também um auto-retrato — neste caso, de um colecionador que durante muito tempo se escondeu por detrás de um pseudónimo.

Em segundo lugar, a Coleção Peter Meeker tem importância por refletir um momento específico da arte portuguesa. O seu núcleo incide sobretudo sobre artistas que iniciaram atividade na década de 1970, ou seja, numa altura em que Portugal emergia do regime ditatorial de Salazar e, a partir de 1974, se encaminhava para a democracia. Entre os nomes centrais da coleção encontram-se os fotógrafos Augusto Alves da Silva (1963), Jorge Molder (1947) e Paulo Nozolino (1955), o escultor Rui Chafes (1966), e os pintores, escultores e artistas gráficos José Pedro Croft (1957), Pepe Espaliú (1955–1993), Ana Jotta (1946), Pedro Cabrita Reis (1956) e Rui Sanches (1954). Esta constelação é ainda ampliada com obras de artistas internacionais como Mirosław Bałka, Wilhelm Sasnal, Monika Sosnowska, Francisco Tropa, Franz West, entre outros.

Em terceiro lugar, esta coleção destaca-se pela presença de séries e núcleos de obras inteiros. Por exemplo, a série Solo (1988–1997) de Paulo Nozolino, composta por 40 fotografias realizadas em doze países europeus, apresentada pela primeira vez integralmente em Portugal — uma reflexão densa sobre a Europa, absolutamente contemporânea e de grande pertinência futura. Ou as séries de Jorge Molder, Condição Humana (2005) e Waiters (1986), estudos fotográficos sobre gesto, aparência e subordinação. Ou ainda a série Xerox (2002) de Augusto Alves da Silva, um retrato lacónico do edifício de uma empresa dedicada, tal como a fotografia, à reprodução. Ou Pinóquio, de Pepe Espaliú, um enigmático conjunto de 16 desenhos sobre máscaras, identidade e mentira. Ou, finalmente, a mais recente série de gravuras de José Pedro Croft, apresentada pela primeira vez na Garage, revelando um processo de trabalho envolvente e rigoroso.

Estas séries estabelecem um diálogo com uma seleção de esculturas de Rui Chafes, Pedro Croft, Katarzyna Józefowicz, Ana Jotta, Rui Sanches e Monika Sosnowska. Em todas elas está presente o corpo — como presença, memória ou ausência: um puxador de porta (Sosnowska), uma bengala (Jotta), um circo infantil vazio (Jotta), três contentores vazios (Croft), uma acumulação de cidades abandonadas (Józefowicz), o retrato abstracto do narcisista e a ilusão do eu (Rui Sanches) e, de forma quase exemplar, as três esculturas Ontem de Rui Chafes.

O meu sincero agradecimento a todos os artistas, a Pedro Álvares Ribeiro e à nossa equipa extraordinária. Foi esta equipa que redigiu os textos curtos sobre as obras em exposição. Foram desafiados, numa primeira fase, a produzir um texto geral com recurso ao ChatGPT e, numa segunda fase, a encontrar palavras que refletissem o seu próprio olhar. A maioria seguiu estas indicações, outros optaram por uma combinação das duas abordagens.


Daniel Baumann, Curador da Casa São Roque.